Maria das Graças Destro era moradora da casa mais alta da parte do Morro da Oficina que caiu. Era natural de Piraúba/MG, chegou em Petrópolis no dia 25/09/1978 e desde então morava na Rua Frei Leão. https://media.graphassets.com/yvY2PbuRuOkzGitjUhm8
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Eu preciso falar da dona Fia

Por Mariana Rocha

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Maria das Graças Destro era moradora da casa mais alta da parte do Morro da Oficina, que caiu. Era natural de Piraúba/MG, chegou em Petrópolis no dia 25/09/1978 e desde então morava na Rua Frei Leão. 

Nos conhecemos em 2021, quando um grupo de amigos e eu passamos num edital emergencial da pandemia para realizar um trabalho artístico/cultural, o Redesencontros. A proposta era realizar uma troca de conversas, que pudesse gerar um produto (fizemos um livro) que registrasse a memória, histórias e personagens de um bairro de Petrópolis. O Morro da Oficina foi o bairro escolhido, lá tinha o Projeto do Morro, do Bruno, amigo de parte da nossa equipe, e ele seria nossa porta de entrada pra encontrar as pessoas que poderiam ser nossas entrevistadas pra coletar essas memórias. 

Bruno indicou várias pessoas, uma delas era a dona Fia. Dentre vários nomes, eu a escolhi pra ser minha dupla... dali em diante trocaríamos muitas mensagens e conversaríamos muito sobre a vida dessa mulher que criou 6 filhos, 11 netos e 5 bisnetos. Fia era um poço de doçura, tímida pra falar dela, mas muito generosa falando dos vizinhos.

Perguntei se ela tinha um sonho:

"O sonho que eu tenho é ver a comunidade, que eu convivo esses anos todos, toda limpinha, toda iluminada, com caminhos fáceis da gente percorrer."

E quando eu perguntei quem ela considerava "artista" na comunidade, ela disse: "Os artistas eu considero que somos todos nós, que apesar de enfrentarmos tantos sacrifícios para construir e conservar nossas humildes casas, sempre encontramos alegria e coragem."

As histórias dos morros de Petrópolis são feitas por pessoas que lutam uma vida inteira pra ter uma casinha, um espaço onde viver e criar a família com dignidade.

Não é aceitável que sonhos e vidas sejam perdidas porque não há ações efetivas que as protejam. 

Tragédias como essa que levou a querida dona Fia e tantos outros amores de alguéns são evitáveis. 

Não devemos esquecer, e não deixar que o poder público esqueça, que a verdadeira história de Petrópolis não é imperial, mas das muitas Fias que ajudaram a construir essa cidade com muita luta.

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Reprodução de post de Mariana Rocha no Instagram @maridrocha